PENSAMENTO PARA REFLECTIR

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos."

(Eduardo Galeano)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Trabalho de Grupo na Sala de Aula: Sim ou Não? Quando e Porquê?

O trabalho de grupo pode ser considerado um método de aprendizagem, que talvez não seja utilizado no 1º ciclo tantas vezes quantas as que seriam desejáveis. Recordo estes meus quinze anos de experiência e percebo que não adoptei esta estratégia com regularidade e, quando o fiz, foi quase exclusivamente na Área de Projecto ou das Expressões.
O trabalho cooperativo é um instrumento pedagógico poderoso para uma aprendizagem activa e participada, ajudando o aluno a desenvolver não só as suas capacidades intelectuais como, também, a sua personalidade e o respeito pelos outros. Na verdade, o professor também tem por missão formar os futuros cidadãos e estes irão agir dentro do grupo e terão de aprender a fazê-lo durante o seu crescimento. Poucas são as profissões solitárias.
Apesar do acto de aprender ser um processo que ocorre no interior da criança, as trocas de ideias e de conhecimentos continuam a assumir um lugar fundamental na promoção da aprendizagem. Assim sendo, devemos, enquanto docentes, proporcionar este tipo de actividades em que pequenos grupos (de 3, 4, ou 5 elementos) ou pares participem num projecto comum.
É esta também a opinião de alguns psicólogos que asseguram que o trabalho de grupo implica não só o desenvolvimento de competências pessoais, como o ouvir os colegas e fazer-se ouvir, mas também interpessoais, como, por exemplo, entender como é que o grupo funciona e como se pode trabalhar em equipa.
Podem-se então explicitar inúmeras vantagens do trabalho em grupo: a promoção de valores e competências transversais aos programas curriculares, tais como a responsabilidade, o espírito de tolerância, a cooperação e o respeito pelos colegas; a possibilidade de existirem trocas e partilhas de conhecimentos entre os alunos, sendo que muitas vezes, um aluno menos esclarecido entende melhor a linguagem de um colega; o alcance de objectivos qualitativamente mais ricos em conteúdo, na medida em que reúne propostas e soluções de vários alunos do grupo; o confronto entre os diferentes saberes presentes no grupo, incentivando os alunos a aprender entre eles, a valorizar os conhecimentos dos outros e a tirar partido das experiências de aprendizagem de cada um; a estimulação da criatividade; a existência de entreajuda na divisão de tarefas e a desinibição de alunos mais tímidos.
No entanto, tal como acontece com qualquer método de ensino, esta metodologia também pode ter a sua vertente menos positiva e por isso importa referir as suas desvantagens: a existência de grande agitação na sala, quando aproveitada por alunos mais indisciplinados; a diminuição da responsabilidade de alguns elementos que esperam que as tarefas sejam realizadas pelos restantes elementos; a manipulação de ideias por parte de elementos líderes e a anulação das ideias dos outros; a limitação da competição e da individualização de conhecimentos e a inibição da capacidade de adaptação a novas formas de trabalho se, em todas as aulas, as actividades forem sempre propostas em grupo.
São evidentes as vantagens da realização do trabalho de grupo em relação às suas desvantagens. E estas levam-nos a equacionar outra situação. O trabalho de grupo, com que tipo de grupos? Pois, eles podem ser constituídos por elementos homogéneos ou heterogéneos. Normalmente, há tendência para querer “equilibrar os grupos”, e falo com base na minha própria experiência pedagógica. Equilibrar no comportamento, nas capacidades, na extroversão ou introversão, na responsabilidade e acabamos por formar grupos heterogéneos. Mas, será esta estratégia a mais correcta? Se o grupo for constituído por grupos homogéneos, não será que “aniquilamos” muitas das desvantagens atrás identificadas?
Senão vejamos: se os alunos com pior comportamento e com mais dificuldades tiverem de realizar uma tarefa, não poderão ficar à espera que outros a realizem por eles pois mais ninguém faz parte do grupo, serão obrigados a pensar, a ter ideias.
Em experiências que realizei na minha aula, também verifiquei que quando os grupos são homogéneos não há tendência para aparecerem líderes, nem haver a anulação de ideias.
Por outro lado, nenhuma metodologia deve ser usada só por si, ou seja, o professor deve criar propostas de trabalho diversificadas para serem desenvolvidas em diferentes contextos: individuais, aos pares, em grupos menores (quatro ou cinco elementos) e maiores (grupo turma) preparando assim os alunos para as diferentes formas de trabalho.
Também não é de descurar o papel importante do professor que deve estar atento às dinâmicas do grupo e promover a partilha inter e entre-grupos. O professor é o mediador que assegura as vantagens desta metodologia durante a actividade e é responsável por minimizar as suas desvantagens.
Em suma, penso que a metodologia do trabalho de grupo deve ser usada com mais frequência na sala de aula pelos benefícios apresentados e poderá ser aplicada em qualquer área curricular, mesmo na Matemática ou na Língua Portuguesa.

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